quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Hip Hop - Movimento em Movimento

Sexta Tem Hip Hop na EsAM - Movimento criado para divulgar este estilo que busca dialogar com os contextos sociais que assolam a sociedade.

Não Percam! Acontece dia 25 de Janeiro, Sexta - feiras às 20:00 horas.
E-mail: assessoriaculturalesam@gmail.com

Hip Hop na EsAM - Especial página 20

Hip Hop: a arte que vem da periferia


Andréa Zílio
Voz, movimento corporal, pintura, ginga com as mãos sob a aparelhagem de som. Elementos que integram o movimento Hip Hop. Mais que expressões artísticas, idéias expostas e a prova de que há jovens preocupados com o hoje, visando dias melhores em um jeito inconformista de ser, que pede reflexão e mudança.
Essa manifestação teve como berço e continua se popularizando em um cenário onde o asfalto é regalia que nunca chega e o matagal é sinal de abandono em meio à falta de infra-estrutura. A maioria que habita o espaço é exemplo de uma ferida aberta na Constituição Federal. O Hip Hop vem como uma voz dessa periferia que cansou do silêncio, representando também uma geração jovem preocupada com o contexto social em que vive o país.
Assim como muitos outros, Antônio Valnir Virício Firme, 24, o Peba, aos 10 anos conheceu as ruas de Rio Branco da maneira mais rude, com a esperança de levar dinheiro para casa. Mas foi fora delaque viu amigos serem assassinados, integrou gangues e adquiriu no meio o vício pelo álcool. A única coisa de que sente orgulho de ter escapado é das drogas.
Foi também nas ruas que o jovem viu pela primeira vez os movimentos do break, que representa a dança, um dos elementos do Hip Hop que, inclusive, foi o que primeiro chegou ao Acre, na década de 80. Antes disso, as aulas de capoeira que Peba praticava não o envolviam o suficiente para que abandonasse as ruas.
Marcos Vicentti
Encontrar os amigos diariamente é o que deixa Marlene feliz
Aos 17 anos, após conhecer o break, no terminal rodoviário de Rio Branco, Peba passou a ir todos os dias à casa do amigo Hélio Marcos, para aprender os passos. Hoje, ele coordena um dos 13 grupos, o B. Boys Break, que faz parte do Centro Acreano de Cultura Hip Hop (CACH2). Também representou o Estado em encontros realizados em Brasília e São Paulo.
Uma causa chamada Hip Hop
As conquistas são contadas com orgulho, mas na voz e semblante, a amargura pela falta de apoio são lembranças diárias que Peba tenta vencer com a vontade de ensinar. Hoje, além das aulas que ministra a adolescentes de uma escola, por meio de um projeto municipal, ele se reúne para treinar com seu grupo, de terça a sexta-feira, na Baixada da Habitasa.
O pequeno espaço de cinco metros quadrados onde treinam impossibilita que o aprendizado seja coletivo. É necessário paciência para esperar que cada um vá ao centro da roda na tentativa de imitar os passos de Peba. Mas agora, eles conseguem se movimentar melhor, pois antes os ensaios aconteciam no chão de terra batida. Graças à boa vontade, os jovens construíram um puxadinho atrás da casa de Marlene da Silva Barbosa, 30 anos, que é uma das integrantes do grupo.
Marcos Vicentti
Oficinas ensinam a arte e a ideologia do movimento
Um sentido à vida
Em meio ao sentimento de revolta, Peba consegue abrandar a voz ao dizer que o Hip Hop é um sentido à sua vida e que estar ensinando ao grupo é a maior alegria que tem. “Esse pessoal que está aqui aprendendo a dança e o pensamento do Hip Hop poderia estar cometendo violência, mas preferiu outro caminho e, mesmo assim, a gente não tem nem lugar para treinar. Me emociono pelo respeito que tenho. Aqui todos somos irmãos e nos ajudamos”, comenta.
É na busca por esse sentido que a acreana Marlene há dois anos vem aliando as funções de mãe, dona de casa e o trabalho de doméstica aos ensaios do break, que viu pela primeira vez nas ruas.
Ela diz que não perde os ensaios por nada. “Depois que conheci o Hip Hop, ele passou a ser a alegria da minha vida. Saber que todo dia vou encontrar o grupo me deixa muito feliz”, diz.
Repassando a idéia
No grupo, que chama a atenção da população que mora na baixada e também é atração que se transforma em alguns momentos de lazer aos moradores, há jovens de vários bairros e diversas idades. Alguns seguem as dicas que aprenderam com os pais, de que é bom ouvir os mais velhos, e nesse caso observam a experiência de Peba para aprenderem e também serem multiplicadores dessa causa.
Ério Inácio, 19, no início via o break apenas como belos passos de dança. Ao procurar saber mais, viu que a proposta era além de uma expressão artística. A todos os ensaios do B. Boys Break ele comparece para, em seguida, levar o que aprendeu ao grupo que criou no bairro Seis de Agosto. Um dos aprendizados mais importantes que adquiriu de Peba é que Hip Hop representa paz, e fazer parte do movimento é deixar de lado qualquer tipo de violência. Uma idéia que dizem estar repassando em um trabalho de formiga, “em passos pequenos, firmes e formando um grande mutirão, onde todos se ajudam pelo mesmo objetivo”.
Os passos no Acre
Na década de 80, os primeiros vestígios do Hip Hop chegaram ao Acre pelos passos do break. Aleatoriamente, algumas pessoas tentavam repetir o que viram em Porto Velho. Mesmo assim, as informações ainda eram escassas.
Em meados de 88, o primeiro contato com dados maiores do Hip Hop chegou por meio do filme “Break Dance”, exibido no extinto Cine-Teatro Recreio. O primeiro passo de organização após o filme foi a criação de vários grupos. No auge do Hip Hop no Acre, fizeram histórias grupos como “Cyborgs”, “Cobras de Rua”, “The Big Boys”, “The Break” e outros.
Em 1997, alguns desses jovens, mais engajados em organizar a causa, começaram a buscar informações que passaram a sair na mídia. Tiveram ainda mais convicção de que o que estavam exercitando era muito mais do que imaginavam.
Mas foi em 1999, com a viagem de treze jovens - incluindo Augusto Maia, que tem o nome de rua, ou seja, o apelido de “Comparsa”, e Jurandir Filho, o “Aliado Kinho” - até a capital rondoniense que a perspectiva aumentou. Lá eles assistiram e filmaram o show dos Racionais MCs, que por meio de suas composições fazem uma mostra clara e objetiva da proposta do movimento.
O Hip Hop no mundo
O movimento Hip Hop é representado artisticamente pela dança, que é o break, a música através do rap, a arte plástica, que ganha formas no grafite, e a discotecagem, que é o DJ. Estudar o surgimento do movimento é unir fragmentos.
Sites e revistas que abordam o assunto situam apenas a origem do break, vindo de Porto Rico, e o rap, da Jamaica. Mais foi nas periferias dos Estados Unidos que Africa Bambaata unificou os quatro elementos, solidificando o movimento e o apresentou ao mundo, o que o tornou mundialmente conhecido.
Com a história de ter como berço a classe social menos favorecida, no Brasil o Hip Hop se espalhou em diferentes Estados em datas próximas, mas foi na cidade de São Paulo que teve sua ascensão. Hoje, o grupo “Os Racionais MCs”, que iniciou com break e atualmente canta rap, é o de maior destaque no Brasil, sendo referência para muitos jovens.
Assim como Rondônia absolveu o Hip Hop em outros centros, o Acre também usou o Estado vizinho como fonte de informação para conhecer mais o movimento e o trazer para também ser voz da realidade local e expressar as idéias dos jovens daqui.
Expandindo a idéia
De volta ao Acre, o grupo exibiu a fita a um grande grupo de adolescentes e jovens. Espalhados por diversos cantos da cidade, eles iniciaram a popularização do Hip Hop, porém, tudo ainda era aleatório.
Ainda dessa forma, esse início de consolidação do movimento daqui teve projeções com participações em encontros nacionais.
Somente em setembro deste ano é que foi criado o Centro Acreano de Cultura Hip Hop (CEAH2), uma necessidade de organização que busca respeito e valorização. Junto a essa oficialização jurídica do movimento no Estado, que enfrentou barreiras burocráticas, acompanha também essa geração, o sonho do reconhecimento. E eles mostram que vão mais longe, definindo as políticas que vão trilhar, passando por um processo de organização interna com a preocupação de continuar sendo um movimento do povo. “O movimento pretende adquirir respeito. Não somos mais os meninos do Hip Hop. Não gostamos de ser tachados assim. Em alguns estados o movimento é forma de vida”, diz Augusto.
O objetivo de uma geração
O interesse de organizar o movimento é antes de tudo, para os integrantes do CEAH2, o sonho de mudar a realidade de desigualdade social através dos elementos que usam como exposição de idéias que possibilitam reflexão. O secretário-geral do Centro, Israel Batista de Moraes, o “De Menor”, argumenta que talvez agora, órgãos, instituições e empresas que sempre se privaram de ajudar o movimento possam dar mais credibilidade.
Israel tem 19 anos e iniciou no movimento com 13, vendo uma apresentação no colégio Castelo Branco, onde alguns grupos se reuniam para treinar. Ele se interessou e depois de três semanas apenas observando teve coragem de fazer parte dos treinos. Hoje, tem um grupo com cinco pessoas.
Um grande incentivador de Israel foi Augusto, que tem 28 anos e faz parte do Hip Hop desde 1986. É tesoureiro do Centro. “Naquele tempo, a polícia não deixava a gente dançar na praça. Rotulavam a gente de marginal e até hoje tem pessoas que olham pra gente estranho por causa do estilo e linguajar. O movimento em si é informação, cultura e entretenimento”, diz.
Uma espera nada conformista
Eles estão sempre tentando encontrar apoio, mas também não esperam muito de fora, pois a palavra não é freqüente na vida desses jovens. Em toda a história do Hip Hop no Acre, somente este ano, depois de muita persistência, é que o projeto “Quilombo Urbano” foi aceito pela Fundação Cultural Elias Mansour para ser financiado por meio da Lei de Incentivo à Cultura.
Todos os fins de semana, vários integrantes dos grupos, muitos que aliam o trabalho aos ensaios e estudos, dispensam a folga para repassar o que conhecem do movimento. O “Quilombo Urbano” possibilita oficinas que ensinam o break, o rap e o grafite. Cerca de 80 pessoas passam pelas aulas. “A visão não é tirar o menino da rua, mas mostrar que existe um outro caminho”, comenta Augusto.
Próximos passos
Entre as idéias do movimento no Estado, está a de se descentralizar da capital e atingir outras cidades. Ao Brasil eles 
mostraram que existem, participando de trabalhos do Movimento de Meninos e Meninas de Rua, do Fórum de Hip Hop, que este ano aconteceu dentro do Fórum Social Mundial, e da Batalha do Ano, evento em que são selecionados grupos para participarem de encontros internacionais.
Outros eventos vêm sendo visados pelos jovens, o que mostra o crescimento do movimento em nível nacional e internacional, provando que o efeito dessa causa é grande e vai longe. Uma prova disso é o Fórum Mundial de Hip Hop (MhobMundi), que acontecerá em janeiro de 2005. Para isso, os acreanos precisarão provar mais uma vez a importância do que acreditam para conseguirem apoio.
Uma geração de jovens que busca os direitos do povo, os integrantes do Hip Hop prometem buscar a justiça social a partir da realidade em que vivem. Não querem ser moda, pois afirmam que surgiram do povo, para o povo, e quem quiser aderir a essa causa precisa aprender esse conceito pois a luta do movimento não pode fugir às suas raízes.
fONTE: http://pagina20.uol.com.br/30112004/especial.htm

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Rio Branco, Acre, Brazil
Escola de música voltada fundamentalmente para esta arte com o objetivo de ensinar e difundir os talentos musicais acreanos.